A última decisão de juros nos EUA e no Brasil foi marcada pela manutenção de suas taxas; por aqui, 10,50% ao ano, por lá, a permanência no intervalo de 5,25% e 5,50%. No Brasil, o sentimento de novas quedas na Selic foi paralisado, visto os últimos dados da economia local; já nos EUA, o FED sinalizou um possível início da queda dos juros norte-americanos ainda para este ano.
A informação americana soou relativamente positiva para a economia global, no entanto, com a divulgação dos dados do Payroll (criação de vagas de emprego americana), a situação mudou. Os números vieram muito abaixo do esperado pelo mercado (175 mil esperados, 114 mil criados), acendendo então o sinal de alerta para um possível período de recessão norte-americana. Nesse sentido, diversos mercados ao redor do mundo sentiram o impacto dos números.
Na semana seguinte ao anúncio de empregos americanos de julho, Europa e Ásia entraram em derrocada; no Japão, o índice Nikkei abriu em queda de 12,4%, sendo a maior queda desde 1987. Esse acontecimento ocorre porque o banco central japonês aumentou a taxa de juros do Japão de 0,10% para 0,25% ao ano por conta da inflação no país que persiste em patamares acima da meta.
Esse fato provocou uma grande mobilização no capital global, sendo fator decisório ao investidor que finalizou boa parte de suas operações. Por aqui, o Ibovespa caiu cerca de 2% desde o anúncio dos dados de emprego nos EUA.
“A segunda maior linha de gastos do governo americano é com juros, perdendo apenas para gastos com guerra. Além disso, a máquina pública americana está pesada; os efeitos sentidos na economia do Tio Sam também surtem da inflação, inflação essa que demonstra sinais de querer recuar mas não recua com força. Isso é muito preocupante para os americanos. E mais preocupante para o cenário global é que o ciclo de queda de juros por lá comece apenas em dezembro”, comenta o assessor na iHUB Investimentos, Lucas Sharau.
A política econômica do Brasil
O governo Lula, ao assumir, encontrou uma economia relativamente bem ajustada, com contas públicas equilibradas e uma agenda de reformas e privatizações em andamento. Contudo, a administração atual optou por expandir significativamente o gasto público, aumentando o número de ministérios e elevando o orçamento federal. Essa estratégia visava, teoricamente, estimular a economia e promover o crescimento, mas acabou resultando em um aumento expressivo dos gastos públicos e numa expansão da máquina estatal, que já está começando a refletir em déficits fiscais e preocupações econômicas além de ineficiente na sua administração.
“A inflação começou a pressionar o orçamento das famílias, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de julho registrou uma variação de 0,18% no mês, acumulando uma alta de 3,61% no ano e 4,98% em 12 meses. O aumento da carga tributária, sem uma correspondente redução de custos ou incremento na produção, está impactando diretamente o poder de compra da população e contribuindo para uma pressão inflacionária. A preocupação principal é que, em vez de impulsionar o crescimento econômico, as medidas fiscais adotadas podem exacerbar os problemas econômicos existentes e resultar em maior carga para os brasileiros”, comenta o especialista.
“Além de tudo isso, o cenário externo está bastante conturbado. Incertezas globais, guerras e aumentos nas taxas de juros de grandes potências mundiais como nos Estados Unidos tendem a desvalorizar nossa moeda (valorizando outras como o próprio Dólar), fator que também influencia diretamente no aumento dos preços aqui no Brasil”, complementa Sharau.
Cenário de Juros no Brasil
A política de juros passou por um ciclo de alta, começando antes de muitos de seus pares internacionais como resposta à inflação crescente. Durante o ciclo de alta de juros no Brasil, a subida da taxa de juros para o patamar de 13,75% ao ano foi uma ferramenta crucial para se controlar a inflação que emergiu como resultado das crises recentes. No entanto, com o início do ciclo de cortes de juros, a expectativa inicial era de que a taxa poderia diminuir gradualmente até cerca de 8,5% ou 9% ao ano.
Recentemente, as expectativas mudaram bastante. Hoje o mercado espera que ocorram novos aumentos na taxa de juros, um cenário que contraria a tendência anterior de cortes. Essa mudança de expectativa reflete a incerteza econômica somada às expectativas sobre quanta inflação esse cenário econômico irá gerar.
A possibilidade de um aumento na taxa de juros está alinhada com o aumento da inflação e a necessidade de controlar o crescimento dos preços, mas também pode representar um obstáculo ao crescimento econômico.
“A incerteza quanto ao futuro do Banco Central e à continuidade da política monetária técnica e independente contribui para uma volatilidade adicional no mercado. A perspectiva de possíveis aumentos na taxa de juros e as dúvidas sobre a liderança do Banco Central estão gerando um ambiente de incerteza que afeta as expectativas econômicas e os preços dos títulos públicos, que estão em níveis historicamente elevados”, finaliza Sharau.
Sobre iHUB Investimentos
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