Tanto a qualificação de profissionais de base quanto o treinamento em nível gerencial devem acelerar neste ano. No âmbito das empresas, o ritmo de expansão dos investimentos por treinado deve passar de 6% (2013) para 9%. Já no caso do Senac-RJ, que treina 140 mil alunos por ano, a meta é dobrar a cada três anos. O forte movimento seria reflexo do mercado de trabalho aquecido, com baixo desemprego e pequena oferta de profissionais treinados.
Em dezembro, na última pesquisa de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupados ficou em 4,3%, o menor nível desde o início da pesquisa, em 2002. Juntando esse cenário nacional com as perspectivas favoráveis de petróleo, Copa do Mundo e Olimpíadas, o Estado do Rio de Janeiro tem visto a procura por profissionalização disparar.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio de Janeiro (Senac-RJ), por exemplo, pode dobrar sua capacidade de atendimento até 2016. A entidade já havia multiplicado por dois seu número de alunos entre 2010 e 2013, para 140 mil. A condição para repetir o resultado, segundo a diretora de produtos Ana Paula Alfredo, é a capacidade de abrir novas unidades.
A demanda pelos cursos não seria o problema. Ela avalia que há grande procura por profissionais qualificados, especialmente diante dos grandes eventos esportivos e de perspectivas para a indústria petrolífera. O movimento na economia traria reflexos palpáveis em setores variados, incrementando a demanda em cursos ligados à construção civil, saúde, informática e outros serviços. Os cursos de enfermagem do Senac-RJ, por exemplo, cresceram 300% desde 2010. No ramo de beleza, a alta foi de 470%.
A diretora de produtos também destaca o foco na abertura de cursos que correspondam às demandas das empresas. "Temos que adequar a abertura de vagas. É difícil trabalhar com modelos, mas fazemos projeções do mercado de trabalho de dois a três anos para frente." O objetivo seria manter o índice de empregabilidade dos alunos. Segundo ela, a taxa conseguida pelo Senac-RJ fica em torno de 80%.
Com base nos estudos, Ana Paula estima que a demanda por qualificação de profissionais de saúde, beleza e tecnologia deve continuar em forte alta. Essas atividades, segundo ela, são favorecidas pelo aumento de poder aquisitivo das classes baixas.
No Senac de São Paulo, a demanda por qualificação também segue em alta. Especificamente na área de empresas e projetos, que inclui parcerias com o governo federal e estadual, foram 42 mil capacitados em 2013. Neste ano, a expectativa é treinar 46 mil profissionais, cerca de 10% de alta. Já o número de bolsas gratuitas subirá de 74 mil para 93 mil em 2014, alta de 25%.
Paulistas focam hospitalidade
Maurício da Silva Pedro, gerente de atendimento corporativo do Senac-SP, afirma que a procura por qualificação é bastante evidente nos segmentos de hotelaria e gastronomia. Segundo ele, é comum que grandes empresas procurem formar parcerias para a qualificação de seus quadros.
A Copa do Mundo, diz Maurício, teria ligação com esta procura. Entretanto, um sentimento de receio entre os empresários do segmento em relação à competição teria feito com que várias demandas não se concretizassem. "Uma das preocupações é que se a empresa investir muito antes, pode acabar perdendo o funcionário para a concorrente", afirma ele. "Mas agora começou uma retomada do segmento hoteleiro. Algumas negociações haviam começado há quase um ano."
Do universo de empresas que procura o Senac-SP, 55% são do setor de serviços, 18% são ligadas ao comércio, e 16% à indústria. Na avaliação de Maurício, todo o tipo de empresa acaba percebendo a necessidade de qualificação. "Mesmo na área de tecnologia, que tem profissionais com formação mais independente, é área que demanda." A principal preocupação das empresas, entretanto, seria a formação de líderes. "É o que dá o tom, faz com que equipe busque os resultados."
Liderança é prioridade
Do lado das empresas, o foco dos gastos em qualificação profissional é a formação de líderes. Segundo a Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD), que reúne profissionais de recursos humanos de 700 empresas, as prioridades são: liderança (81%); comunicação e feedback (58%); qualidade e atendimento ao cliente (39%); segurança e treinamentos obrigatórios (22%); e Tecnologia da informação (17%).
"Sempre se identifica que os principais problemas são os líderes, que não sabem lidar com pessoas. Esse é um fator determinante", diz o diretor-executivo da ABTD, Alexandre Slivnik. E mesmo quando o diagnóstico traz que o problema envolve a linha de frente - como impasses no atendimento ao cliente - as empresas investem nos líderes, para que eles transmitam as mudanças necessárias. "Para mudar a cultura de uma companhia, é preciso fazer programa de treinamento de cima para baixo", como diz Slivnik.
"Esse é um modelo que acredito bastante. O que as empresas têm buscado muito são treinamentos que iniciam com projeto de desenvolvimento de liderança e replicam para o resto da pirâmide", diz Adriano Araújo, diretor-executivo da unidade de recursos humanos do Grupo Empreza.
A ABTD estima que o valor médio de remuneração dos colaboradores que recebem treinamento é de R$ 5.524. Já o valor gasto por profissional treinado é de R$ 4.781 por ano; para 2014, o valor deve crescer 9%. Araújo, por outro lado, espera alta de 12%. "Trabalho com projeção mais otimista. Olimpíadas e Copa têm impacto gigantesco."
Ainda na visão de Araújo, a busca por qualificação segue aquecida porque as empresas tiveram uma disparada de crescimento sem contar com a quantidade de profissionais preparados para assumir posições mais estratégicas. "As empresas tiveram crescimento mais acelerado do que a formação de liderança. Mas formar líder é um processo demorado. É mais fácil ensinar matemática do que liderança."
Copa faz firmas anteciparem projetos de RH
O mundial de futebol deste ano está despertando insegurança em empresários de diversos segmentos. Para os negócios do ramo de treinamento e desenvolvimento não é diferente. "A Copa é uma incognita", afirma Yuri Trafane, sócio da Ynner Treinamentos. Para ele, não é possível estimar o impacto da competição.
"O que parece é que as empresas estão adiantando projetos. Pela nossa percepção, eles eram disparados a partir de março. Mas agora, desde segunda quinzena de janeiro, já experimentamos um movimento mais denso." Por outro lado, ele diz que ainda há uma parcela de 10% a 20% das empresas que estão segurando os seus orçamentos.
Para 2014, Trafane espera pelo menos repetir o crescimento apurado no ano passado, de cerca de 20%. Ele afirma que a Copa não traz impacto direto no treinamento da alta gerência, foco da atuação da Ynner, porque os projetos têm enfoque no médio e longo prazo. "Por outro lado, as empresas podem buscar reforços na área operacional."
Trafane afirma que está apostando em que a Copa "não vai atrapalhar". Num primeiro momento, havia a percepção de que o campeonato poderia trazer oportunidades. Mas, agora, o sócio afirma que "ficará feliz" se o impacto nos negócios não for negativo.